sexta-feira, 6 de maio de 2011

Quem disse que a distância é sempre ruim?

Vinha numa trajetória , desde pirralha, em linha reta subindo a ladeira.

Lembro como ontem:

desde pequena, tive algumas características com as quais permaneço até hoje.

A mais forte e presente é o senso de justiça a ferro e fogo. Não que eu seja adepta do "olho por olho, dente por dente", acredito numa flexibilidade e diferenciação de caso para caso. Porém, sofro de uma necessidade de direitos iguais a todo custo, mesmo que isso venha a me consumir.
Outra? Ah..minhas manias metódicas! Com meu pai, apertada todos os parafusos soltos da prateleita da sua loja; com minha mãe, limpava o quintal milimetricamente (300m²!!!). Os fins de semana não fugiam à regra: após o almoço, me prontificava sempre para lavar as louças, tirando as sujeiras encarnadas das panelas que minhas tias não tinham paciência de tirar ao longo da semana. Com os amigos, limpava os vidrinhos de molho inglês e pimenta dos bares com palito e guardanapo.

"Xô neura"?! Que nada! Alguns podem achar doentio..eu vejo como gestos terapêuticos, que me fazem passar o tempo e alcançar o que chamo de "estágio de não pensar em nada", arejar a mente.

Voltando às minhas características...

O fato é que, minha maneira de ser me tornou bem diferente dos meus irmãos. Infelizmente, por mais que as mães se esforcem, sempre acabam errando, hora ou outra. Claro, ninguém é perfeito!

A questão é que minha mãe partilha das minhas manias de limpeza, porém, não comunga do meu senso de justiça por um grande motivo: é machista! Assim foi criada e dessa forma agiu por toda nossa criação. Meu pai também ajudou: não deixava meu irmão lavar uma louça sequer, para não correr o risco de virar "maricas".
Ora, além da homofobia implicada, parece que ele não tinha dimensão da falha como pessoa que isso poderia acarretar na formação do seu primogênito, ou mesmo, a quem isso afetaria indiretamente.


A linha reta que seguiu meus dias se traduz em brigas consecutivas reclamando meu direito de não limpar a casa só, poder levar meus amigos na sala e não ter blusas jogadas ou sapatos atirados. Revolta por só as moças terem que tomar conta da casa (é uma vergonha uma casa bagunçada com duas moças morando nela!) Nunca guardei revolta e sempre comprei brigas. Sujou? LIMPE! Bagunçou? Arrume, oras. Mas com isso peguei a fama de chatinha, de encrenqueira.


A gota d´água foi: mesmo morando fora de casa, meu irmão convencer minha mãe a criar um cachorro dentro do apartamento (coitado do cachorrinho..), onde ele se dizia o pai (por cobrir os gastos), mas não limpava suas "necessidades" nem perdia tempo educando-o. AMO animais, desde criança, mas acho que é preciso ter condições para criá-los. Não havia um canto da casa que não houvesse sido "batizado" por ele, e por isso, não tinha mais onde fazer o que mais gosto: deitar no chão geladinho. Não tinha mais coragem de levar meus amigos em casa, pelo incômodo que o cachorro sempre causava. Se voltasse ao meu discurso: mãe, a senhora age errado..continua agindo, como sempre....lá vinha a bronca: VOCÊ ESTÁ SE ACHANDO CRESCIDINHA, NÃO? QUERENDO ME DITAR O QUE DEVO FAZER?

Pois bem, resolvi respirar novos ares. Vim morar com meu pai. Apesar do peso de passar o dia só, não recebo reclamações. Organizo meu tempo, dou conta dos trabalhos, da roupa, da comida, da casa.. Deixei de ser a mal humorada.
Minha mãe agora me liga, com saudades. Não brigamos. Quem disse que a distância é sempre ruim?

2 comentários:

  1. Oi linda!!!!claro que não é ruim.A distância faz reconhecermos os verdadeiros valores dos que estão longe....a falta de suas gentilezas e cuidados.O dia a dia nos cega e acabamos só sentindo o que nos encomada (como ser chamado a razão).O importante ,segundo o que acho,é que os sentimentos estejam em paz e o amor possa ser demonstrado.Estar longe abre nossas cabeças porque ver de fora uma situação é bem mais facil para se tomar atitudes.Tomara que vc e a mama estejam felizes.Um domingo lindo para vc

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  2. Dia das mães, e a minha estava com a minha avó materna, em outra cidade. Eu fui com meu pai comemorar junto à vó paterna e tias. Novamente pego a louça, limpando-a minuciosamente. Lembrei muito do post!

    No dia seguinte, após a minha pré-banca da monografia, passei o dia com minha mãe. Foi muito bom e saudável. Estamos realmente em paz. Obrigada!

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